Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) de 2022, mostram que o câncer de próstata é o segundo mais comum no Brasil, ficando atrás apenas do de pele. Estima-se que cerca de 71.730 homens ainda serão afetados com esse tipo de câncer por ano, entre 2023 e 2025, e a gravidade do número cresce ao diagnosticar que 60% do casos são descobertos em homens negros, população mais fragilizada e com menos acesso à serviços de saúde.
A média de mortes por câncer prostático no Brasil, está acima da mundial. Enquanto a taxa global é de 33,1 casos a cada 100 mil homens, no país existe um risco estimado de 62,95 casos novos a cada 100 mil homens. Já a diferença entre negros e brancos não se deve a nenhum fator biológico, mas a desigualdade social.
Em artigo para o site SOnHe, o oncologista André Sasse explica que homens negros fazem menos exames de rastreamento como o Antígeno Prostático Específico (PSA), do que homens brancos. A doença não age de formas diferentes nos dois grupos, no entanto, os negros “mais frequentemente fazem diagnósticos mais tardios, em estágios mais avançados”, escreve o médico.
Além disso, não é tão fácil para eles conseguir manter hábitos saudáveis de vida, isso porque a maior parte da população negra do Brasil é pobre – pretos e pardos representam 72.9% da população da linha de pobreza monetária, e o desemprego que assola esse povo é o principal motivo. Sendo assim, alimentação balanceada e atividades físicas regulares nem sempre são acessíveis para eles.
Ao portal Alma Preta, a oncologista clínica Abna Vieira diz: “Os fatores de risco do câncer de próstata são obesidade, falta de atividade física, tabagismo, exposição a metais pesados e poluição, etc. E o que se sabe é que a população negra, de modo geral, está mais vulnerável a essas condições”.
Confira o painel do Ministério da Saúde de 2023, sobre a relação do câncer de próstata e postos de trabalho:
O racismo e os tabus quanto à masculinidade atrapalham o diagnóstico de câncer de próstata em homens negros
O exame de PSA, mais conhecido com o exame de toque retal, é muito menos procurado por homens negros devido à ideia de que ele ameaça a masculinidade. O tabu, no entanto, só contribui para o crescimento do câncer, pois a maioria dos tumores crescem lentamente e não dão sinais de que a saúde do homem pode estar ameaçada.
O médico clínico geral e pesquisador do âmbito da saúde da população negra, Fleury Johnson conta que 1 a cada 4 dos seus paciente negros são homens, e eles, geralmente, não buscam ajuda médica devido a uma noção de auto cuidado, mas sim por influência das esposas e filhas. “Existe o estereótipo do homem negro viril, aquela pessoa forte que não precisa ir ao médico e acaba deixando seu cuidado de lado”, diz o profissional ao Portal Drauzio Varella.
Além desses problemas, existe ainda a dificuldade de acesso à saúde, que pessoas pretas ainda enfrentam. Devido às suas condições financeiras, a maior parte dessa população não conseguem ter acesso a serviços de saúde pela rede privada. Já pelo SUS, os equipamentos de radioterapia estão mal distribuídos: 55% estão na região Sudeste, 19% na região Sul e 13% no Nordeste. A situação piora no Centro-Oeste, que tem apenas 7%, seguido pela região Norte, com 6%, de acordo com o portal SOnHe.
Atrelado a isso, o presidente do Instituto AfroAmparo e Saúde (IAAS), Paulo Romualdo, argumenta que a desigualdade se deve, em grande parte, ao racismo estrutural. “Os homens pretos têm dificuldade de acesso aos serviços públicos e privados de saúde. As estruturas são burocráticas, caras e ineficientes. Temos que combater o racismo estrutural e, em paralelo, fortalecer empresas que colocam a saúde física e emocional dos negros como prioridade”, pontua ele, em fala ao site Todos Juntos Contra o Câncer.